Eram 5h30 da manhã quando Ana, cuidadora do seu marido com Alzheimer há quase dois anos, acordou pela terceira vez naquela noite. Ele estava agitado, confuso, e perguntava se era hora de ir trabalhar — mesmo já aposentado há mais de uma década. Ana o acalmou com paciência, mas ao voltar para a cama sentia o corpo pesado, os olhos ardendo e um nó no peito que não desaparecia. O que antes era só cansaço agora parecia algo maior: estresse acumulado.
Cuidar de um familiar com Alzheimer é uma jornada cheia de amor, mas também de desafios diários que podem esgotar emocional e fisicamente. A sobrecarga, a privação de sono, a falta de tempo para si e a constante vigilância fazem com que muitos cuidadores vivenciem níveis altos de estresse sem perceber.
Por isso, aprender e aplicar 5 estratégias para reduzir o estresse cuidando de um familiar com Alzheimer não é um luxo, mas uma necessidade. Cuidar da própria saúde mental é essencial para manter o equilíbrio e continuar oferecendo um cuidado compassivo e seguro. Afinal, o cuidador também precisa ser cuidado — começando por ele mesmo.
O que causa estresse em cuidadores de pessoas com Alzheimer?
O estresse vivido por quem cuida de um familiar com Alzheimer não surge do nada. Ele é o resultado de uma rotina intensa, emocionalmente exigente e, muitas vezes, solitária. Existem diversos fatores que contribuem para esse desgaste, e compreender suas origens é o primeiro passo para enfrentá-lo com mais consciência e leveza.
A exaustão física é uma das causas mais comuns. Cuidadores costumam passar o dia em função do familiar, ajudando na alimentação, higiene, medicação e segurança — e, à noite, o descanso muitas vezes é interrompido por episódios de insônia ou agitação do paciente.
A privação de sono, aliás, é um dos gatilhos mais silenciosos. Dormir mal, por noites seguidas, compromete a memória, o humor, a paciência e até o sistema imunológico do cuidador. Aos poucos, isso vai corroendo a energia necessária para lidar com as demandas do dia a dia.
O isolamento social também pesa: muitos cuidadores se afastam de amigos, atividades de lazer e até do trabalho, o que pode gerar solidão e sensação de abandono. Isso se intensifica quando há conflitos familiares, como falta de apoio, divisão desigual das tarefas ou discordância sobre as decisões de cuidado.
Por fim, existe o sentimento de impotência, especialmente nos momentos em que o cuidador percebe que, apesar de todos os esforços, a doença continua avançando. Essa sensação pode levar à frustração, à culpa e até à depressão.
Segundo a Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz), o estresse prolongado dos cuidadores pode comprometer seriamente sua saúde mental e física, e é fundamental que eles busquem estratégias de prevenção e apoio contínuo para não adoecerem durante a jornada do cuidado.
Por que é essencial controlar o estresse?
Muitos cuidadores, por amor ou senso de responsabilidade, colocam as próprias necessidades em segundo plano — acreditando que isso é o certo a se fazer. Mas quando o estresse vira parte da rotina, silencioso e constante, ele começa a cobrar um preço alto, tanto para quem cuida quanto para quem está sendo cuidado.
O estresse crônico afeta o corpo de forma ampla. Pode causar dores musculares, pressão alta, queda na imunidade, insônia persistente e até problemas gastrointestinais. No campo emocional, ele se manifesta como irritação frequente, ansiedade, tristeza sem explicação e uma sensação de esgotamento que parece não passar, mesmo com descanso.
Com o tempo, muitos cuidadores relatam sentir que estão “no automático”, fazendo tudo por obrigação, sem energia, sem alegria — apenas sobrevivendo ao dia. E isso afeta diretamente a qualidade do cuidado que é oferecido ao familiar com Alzheimer. Quando o cuidador está emocionalmente fragilizado, torna-se mais difícil manter a paciência, a empatia e a atenção aos detalhes que o paciente precisa.
É como tentar encher um copo usando uma jarra vazia.
Controlar o estresse não é egoísmo — é autocuidado e, acima de tudo, uma forma de proteger quem você ama. Um cuidador que se cuida consegue oferecer um suporte mais amoroso, mais estável e mais saudável. E essa diferença é sentida no dia a dia, nos pequenos gestos e nas reações do próprio familiar com Alzheimer.
As 5 Estratégias para Reduzir o Estresse
O estresse do cuidador não some de uma hora para outra, mas existem pequenas atitudes diárias que podem aliviar o peso e trazer mais leveza à rotina. Essas estratégias não exigem grandes mudanças — e sim, espaços de respiro no meio do caos. A seguir, você encontrará cinco caminhos simples, mas profundamente transformadores.
Estabeleça pequenos momentos de autocuidado
Pode parecer pouco, mas 10 minutos só para você podem mudar o rumo do seu dia. Um chá relaxante, um banho quente antes de dormir, alguns minutos de leitura leve ou simplesmente sentar em silêncio com uma música suave. Esses gestos pequenos funcionam como pausas restauradoras para o corpo e a mente.
Lembre-se: não é egoísmo se cuidar — é necessidade. Quando você se abastece de calma, consegue oferecer mais presença e paciência a quem cuida.
Pratique técnicas simples de respiração
A respiração consciente é uma ferramenta poderosa para regular o sistema nervoso. Em momentos de ansiedade ou exaustão, ela ajuda a ancorar o corpo no presente e a acalmar a mente.
Experimente esta técnica de 2 minutos:
Inspire pelo nariz contando até 4, segure o ar por 2 segundos, e expire lentamente pela boca contando até 6. Repita esse ciclo de 5 a 10 vezes. Você vai se surpreender com o alívio que isso traz.
Peça ajuda e divida tarefas
Você não precisa — e não deve — carregar tudo sozinho. O cuidado compartilhado é mais leve e mais saudável para todos. Converse com outros familiares, vizinhos de confiança ou amigos próximos. Muitas vezes, as pessoas querem ajudar, mas não sabem como.
Você pode pedir apoio para pequenas coisas: ir à farmácia, preparar uma refeição, ficar algumas horas com o paciente enquanto você descansa ou resolve algo pessoal. Delegar não é sinal de fraqueza — é um ato de sabedoria e autocuidado.
Participe de grupos de apoio
Falar com quem vive a mesma realidade pode trazer consolo, alívio e conexão. Os grupos de apoio são espaços onde o cuidador pode desabafar, rir, chorar, trocar experiências e se sentir compreendido — algo raro no dia a dia.
A ABRAz (Associação Brasileira de Alzheimer) oferece grupos gratuitos em várias regiões e também encontros online. Além disso, você pode buscar comunidades no WhatsApp ou Facebook com outros cuidadores que compartilham suas lutas e descobertas.
Use a escrita como válvula de escape
Escrever é uma forma silenciosa, íntima e profunda de colocar para fora aquilo que aperta o coração. Manter um diário, escrever cartas que nunca serão enviadas ou simplesmente anotar os altos e baixos do dia pode ajudar a organizar pensamentos e aliviar tensões.
Não se preocupe com a forma ou as palavras certas. Escreva com o coração. A escrita não julga — ela acolhe.
Essas estratégias não substituem um tratamento profissional, mas podem ser um ponto de partida para recuperar o equilíbrio emocional. Um passo por dia já é um avanço. Você merece cuidar de si tanto quanto cuida de quem ama.
Sentir estresse ao cuidar de alguém com Alzheimer é absolutamente natural. Você está lidando com desafios constantes, mudanças inesperadas e emoções intensas — tudo ao mesmo tempo. Mas é importante lembrar: o estresse pode fazer parte da jornada, mas não precisa comandar sua vida.
Pequenas mudanças diárias, como uma pausa para respirar, um pedido de ajuda ou a decisão de se abrir com outros cuidadores, já representam um passo enorme em direção ao bem-estar. Escolha uma das estratégias que leu aqui e experimente colocá-la em prática ainda hoje. Seu corpo, sua mente e até mesmo a pessoa que você cuida vão sentir a diferença.
Cuidar de alguém com Alzheimer é um ato de amor — mas cuidar de si também é. E você merece esse cuidado.
E você, como cuida de si?
Você já usa alguma dessas estratégias no seu dia a dia?
Tem alguma outra que funciona bem para você?
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Sua história pode inspirar e acolher outros cuidadores que estão passando pelo mesmo caminho.