5 Estratégias para Evitar Conflitos Familiares Durante o Cuidado de Pacientes com Alzheimer

Família reunida com a avó que sofre de Alzheimer

“Se eu pudesse pedir uma coisa, seria paz em casa. Só isso.” — foi o que Ana me disse, com os olhos marejados, enquanto tomava o terceiro café do dia, suas mãos ainda tremendo discretamente.

Ana, 49 anos, é segunda filha e cuida da mãe, Dona Lourdes, diagnosticada com Alzheimer há quatro anos. No começo, a família se uniu: irmãos, tios, primos — todos querendo ajudar, todos cheios de boas intenções. Mas conforme a doença avançou, as visitas rarearam. As decisões ficaram pesadas. E a cada nova reunião de família, parecia que Ana carregava sozinha um fardo que era de todos.

“Meu irmão mora em outra cidade. Sempre tem uma opinião sobre o que eu ‘deveria’ fazer, mas não está aqui pra ver minha mãe perguntando pela minha avó, que já morreu há vinte anos. É como se a crítica viesse fácil pra quem não vê a luta de perto.”

A casa de Ana cheira a café fresco misturado com o perfume suave de lavanda que ela borrifa no quarto da mãe, tentando tornar o ambiente mais acolhedor. Nas paredes, fotos antigas contam histórias de uma Dona Lourdes vibrante, de sorriso fácil. Hoje, Ana diz que às vezes sente saudades de quem sua mãe já foi — e sente culpa por isso.

As discussões familiares, que começaram pequenas, explodiam em assuntos mal resolvidos de décadas. E Ana, já exausta, percebia que cada conflito a deixava ainda mais sozinha na tarefa de cuidar.

Essa é a realidade de muitos cuidadores: além da luta diária para cuidar com amor, ainda precisam administrar os conflitos e julgamentos familiares.

Mas existem estratégias que podem ajudar — práticas e possíveis, mesmo para quem já está no limite emocional.

Divida a informação de maneira clara e constante

Muitos conflitos surgem da falta de informação. Quando a família não entende o que é Alzheimer, pode minimizar os sintomas (“ela está fazendo de propósito”, “é só chamar a atenção”).
Organizações como a ABRAz orientam a manter uma comunicação regular: enviar atualizações por grupos de WhatsApp ou e-mails, compartilhando laudos médicos e relatórios simples sobre o dia a dia.
Ana criou um grupo de WhatsApp para a família, onde toda semana manda um resumo da evolução da mãe. Isso diminuiu bastante os mal-entendidos.

Crie um plano de cuidado compartilhado

Se você carrega tudo sozinho, o ressentimento (e o desgaste) virão. Reúna a família — seja presencialmente ou online — e proponha a construção de um plano de responsabilidades.
Pequenas tarefas, como pagar contas, buscar remédios ou fazer compras, podem ser distribuídas. Mesmo quem mora longe pode ajudar financeiramente ou emocionalmente.
Segundo a Alzheimer.org.br, o engajamento compartilhado é crucial para evitar sobrecarga e brigas.

Reconheça as limitações emocionais dos outros (e as suas)

Nem todo familiar consegue lidar com a dor de ver alguém querido mudar. Alguns negam, outros fogem. Entender isso — sem necessariamente aceitar comportamentos abusivos — pode reduzir o atrito interno.
“Eu parei de esperar que meu irmão fosse o que ele não conseguia ser,” contou Ana.
Aceitar nossas próprias emoções — tristeza, raiva, medo — também é essencial. Ter um espaço de apoio, como grupos da ABRAz, pode fazer toda a diferença.

Use técnicas de comunicação não-violenta

Evitar acusações, focar no que você sente e precisa, e pedir ajuda de maneira concreta são práticas da Comunicação Não-Violenta (CNV).
Exemplo: em vez de dizer “vocês nunca ajudam”, experimente “me sinto sobrecarregada e preciso de ajuda para buscar os remédios da mamãe esta semana.”
A linguagem importa. Muitas vezes, um pedido feito com vulnerabilidade e respeito abre portas que antes pareciam trancadas.

Busque apoio externo, se necessário

Se os conflitos familiares estão insuportáveis, considere trazer um profissional — assistente social, terapeuta ou mediador. Algumas ONGs oferecem esse suporte de forma gratuita ou com valor social.
Na experiência de Ana, ter a orientação de uma psicóloga da ABRAz ajudou a dar nome ao que ela sentia: “Eu descobri que eu não era fraca. Eu estava, simplesmente, esgotada.”

Uma última palavra para você, cuidador…

Se você se vê na história de Ana, saiba: você não está sozinho.
Cuidar de quem amamos, vendo sua memória se dissolver como areia entre os dedos, é uma das tarefas mais corajosas e solitárias que existem. E mesmo quando parece que ninguém vê, mesmo quando a família falha, o seu amor não passa despercebido.

Cada pequeno gesto seu — um sorriso paciente, uma canção cantada no meio da noite, uma carícia na testa enrugada — é uma vitória.
E é também uma herança de amor que ficará para sempre, mesmo quando a memória falhar.

Você é mais forte do que imagina. E merece tanto cuidado quanto oferece.

Respire. Permita-se pedir ajuda.
E lembre-se: cuidar também é permitir-se ser cuidado.

Se quiser dar o próximo passo para cuidar melhor de você mesmo, te convido a ler este artigo:
A Importância do Relaxamento Progressivo para Cuidadores em Situações de Alta Pressão

Você merece momentos de alívio e paz.

Agora é sua vez! Gostaríamos de saber suas experiências. Quais desafios você enfrentou ao cuidar de um familiar com Alzheimer? Tem alguma dúvida ou sugestão? Deixe seu comentário abaixo. Sua participação pode ajudar outras famílias que estão passando pela mesma situação!

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